O CCBB apresenta o majestoso Cícero Dias, poeta das cores e com suas pinturas modernistas à la Portinari

Não sou de recomendar exposições, no entanto, o percurso poético nas obras de Cícero Dias é deslumbrante. O ano em que completa 95 anos da Semana de Arte Moderna, o artista e pintor modernista pernambucano surpreende e me intriga com as suas poesias pintadas na tela. O Centro Cultural do Banco do Brasil – CCBB apresenta a exposição de Cícero Dias que circula por São Paulo. Nossa São Paulo tem a oportunidade de acolher e se deslumbrar com uma das exposições mais completas de um artista pernambucano.
O perfil e cronologia do artista
Cícero nasceu em 1907, em Pernambuco, em um adocicado engenho de açúcar, cresceu junto com um Brasil arcaico e patriarcal, recém liberto da escravidão. Sua interpretação poética artística, não é nada tradicional, se sobrepõe e evoca metáforas inconscientes. Dessa forma, suas pinturas eróticas e oníricas se impõem em cenários de sua infância rural, refletindo seus devaneios e sua liberdade.

Cícero Dias, é um nome para ser lembrado na arte modernista brasileira do século XX, conviveu e era amigo de grandes artistas como: Manuel Bandeira, Murilo Mendes, José Lins do Rego, Mário Pedrosa, Villa-Lobos, Mário de Andrade, Paul Éluard, Pablo Picasso, entre outros.
A exposição apresenta pinturas, fotografias, documentos e cartas trocadas entre seus amigos modernistas, evocando sua afeição e trocando ideias coloridas.
O trabalho das pinturas de Cícero é assombroso. Foi convidado para expor em sua primeira exposição realizada no Rio de Janeiro, em 1928, aconteceu em meio a um Congresso Internacional de Psicanálise, na Policlínica. Suas pinturas despertaram o interesse de grandes críticos e artistas modernistas da época devido a evocar imagens inconscientes e a memória uma resistência as regras e padrões burgueses da época.
Fiz um recorte singelo de suas grandes pinturas. A primeira sem título, pintada em aquarela mostra uma mulher segurando flores, me encanta por sua delicadeza aos detalhes. É possível ver a presença de devaneios eróticos nessa produção de 1929.
O erotismo reprimido, do jovem senhor de engenho que conviveu com as suas criadas sempre presentes em sua infância e adolescência. A pintura retrata uma mulher opulenta e doce, em um repouso quase inocente, com flores em suas mãos, e seu corpo semicoberto tem os seios e o sexo a mostra.
A imagem faz alusão a um poema de Paul Éluard, escrito em uma exposição de Cícero Dias:
“Uma mulher imóvel pousa sobre a terra
No calor, ela se ilumina lentamente
Profundamente, como um botão e como uma fruta
No calor, a noite floresce e o dia amadurece.”

A exposição de Cícero Dias em 1928 realizada na Policlínica Geral, atraiu olhares da alta intelectualidade carioca, que compareceu a abertura.
Entre os presentes estava o poeta Manuel Bandeira, que escreveu uma carta a Mário de Andrade, essa datada de 27 junho de 1928, assim descrevia a obra de Cícero: “A novidade aqui é a exposição de um rapaz de Pernambuco que vive no Rio – Cícero Dias. Uma arte profundamente sarcástica e deformadora”.
Na pintura, por exemplo, percebemos a entrada da Barra com o fio do carrinho elétrico do Pão de Açúcar preso na outra extremidade ao galo da torre da Igrejinha da Glória, e uma igrejinha toda torta.
Manuel Bandeira ainda afirma que Cícero é um pintor com muita imaginação, e o compara a Goeldi, Di Cavalcanti e Nery, pintores renomados no cenário artístico da época.
No trabalho de Cícero, há uma dedicatória para o artista Lasar Segall (pintor judeu brasileiro), ele escreve: “Ao meu amigo Lasar Segall, com grande admiração, o abraço de Cícero Dias”. Cícero demonstra grande imaginação e ousadia nessa pintura, com a sua profunda delicadeza e sarcasmo.

Quando foi perseguido pelo Estado Novo, Cícero resolveu partir para Paris em 1937 e viveu pelas ruas parisienses até a sua morte, em 2003.
Na Europa, seu talento foi reconhecido por Pablo Picasso. Nessa época quis experimentar outros estilos em sua pintura, chegando a abandonar por completos as figuras e explorar um universo mágico da abstração e da geometrização.
Uma sala que surpreende na exposição, é com certeza a chamada “fase vegetal”, que demonstra o momento de transição entre a figura e a abstração, e a utilização de cores tropicais, apresentando mais uma vez a sua ousadia nesse novo estilo de pintar.
Algumas pinturas da fase das “entropias”, da década de 1960, também estão entre as pinturas da exposição. Nelas, Cícero abandona as formas geométricas e brinca com os efeitos da tinta escorrida. Essa forma de pintar traz as cores tropicais, lembrando o seu país de origem Brasil, e a sua busca pela liberdade da forma, do estilo, das cores que se misturam livremente.
Uma sala que surpreende na exposição, é com certeza a chamada “fase vegetal”, que demonstra o momento de transição entre a figura e a abstração, e a utilização de cores tropicais, apresentando mais uma vez a sua ousadia nesse novo estilo de pintar.
Algumas pinturas da fase das “entropias”, da década de 1960, também estão entre as pinturas da exposição. Nelas, Cícero abandona as formas geométricas e brinca com os efeitos da tinta escorrida. Essa forma de pintar traz as cores tropicais, lembrando o seu país de origem Brasil, e a sua busca pela liberdade da forma, do estilo, das cores que se misturam livremente.

Cícero nunca fez parte de um movimento artístico, sempre fez questão de ter um trabalho ousado e independente. Queria ter sido amigo dele, mas não era dessa época modernista empolgante. Vale a pena se aventurar nas obras de Cícero Dias. Corre! Pois a exposição irá até julho.
O meu percurso poético por suas obras se encerra aqui, mas voltaremos a nos encontrar para falar sobre outras obras, exposições inquietantes e poéticas. Aguardem!
Au revoir!
Serviço: Cícero Dias – Um percurso poético (Exposição retrospectivas com 126 obras do artista pernambucano)
Local: Centro Cultural Banco do Brasil
Endereço: Rua Álvares Penteado, 112 – Centro – CEP: 01012-000 – São Paulo/SP
Telefone: (11) 3113-3651
Período: De 21/04 a 03/07
Funcionamento: De quarta a segunda, das 9h às 21h.
Classificação: Livre
Site: http://culturabancodobrasil.com.br/portal/sao-paulo
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Redação SP da garoa

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