Pela primeira vez em São Paulo, a exposição traduz em poemas do poeta paulistano Arnaldo Antunes, a palavra “fotografia”, por meio de nove obras inéditas que exploram a escrita e o ambiente com luz e sombra


Em mais uma de minhas caminhadas pela cidade da garoa, me deparo com uma nova exposição, dessa vez encontro a luz e a poesia unificadas. Você já presenciou a poesia nas artes visuais? A poesia concreta é um estilo de escrita poética de caráter experimental ou visual, que procura estruturar o texto poético a partir do espaço do seu suporte, sendo ele a página de um livro ou não, pode ser uma parede em branco ou mesmo colorida, buscando a superação do verso e o transformando em uma unidade rítmica, rica em sonoridade.
A exposição Luzescrita se encontra no Espaço Cultural Porto Seguro, em São Paulo. O intuito da exposição é traduzir em poemas do poeta paulistano Arnaldo Antunes, a palavra “fotografia”, uma arte tão utilizada nos dias de hoje. O projeto é uma ideia de Fernando Lazlo, desenvolvida nos últimos 15 anos. Com a curadoria de Daniel Rangel, a exposição Luzescrita teve passagens por Salvador, Curitiba, Rio de Janeiro, Brasília e Vila Nova de Cerveira (Portugal), e continua com novas metamorfoses e aumento em seu acervo de exibição de imagens e obras desde a primeira exposição.
Pela primeira vez em São Paulo, a exposição Luzescrita traz nove obras inéditas, como a instalação “Assombraluz”, a fotografia “Fogo n’ Água”, “ilumina Elimina”, “Luz Negra” e várias outras obras que exploram a escrita e o ambiente com luz e sombra, levando a um novo olhar para a fotografia, agora traduzidas em palavras.
O perfil e realizações do artista como poeta

Arnaldo Antunes, além de um grande compositor, músico e artista visual, é também um primoroso poeta. Em suas poesias, ele explora diferentes diagramações, fontes e cores, compondo textos que exploram as dimensões visuais das palavras (lembrando muito Augusto de Campos, poeta concretista brasiliero), que também se utilizava de recursos visuais em seus poemas.
Em 1992, o artista recebeu o maior prêmio concedido a um autor da literatura brasileira, o Prêmio Jabuti, na categoria Poesia. Muitos de seus poemas construídos quando Arnaldo ainda era integrante da banda Titãs, e outros em sua carreira solo. Os poemas são criativos, com elementos que exploram as artes visuais, a diagramação, as fontes e cores diversas, elementos fundamentais da poesia concreta, onde ele busca alcançar o sentido pretendido em suas composições inusitadas e surpreendentes.
Arnaldo Antunes utiliza recursos oriundos de estilos literários distintos para construir os seus poemas, são eles o Concretismo e a Poesia Marginal. Entre esses recursos estão o aproveitamento da imagem que é elemento essencial de sua poesia, o jogo de palavras, o ludismo, além do encantamento de um olhar quase infantil, a originalidade, a escrita telegráfica e a objetividade. Para exemplificar a genialidade do artista inventivo e as inquietações em suas obras, iremos nos aprofundar em algumas obras da exposição Luzescrita.
Comentando as obras
Duas salas na exposição foram destinadas à montagem. De caráter experimental e com ênfase para os contrastes entre o produto tecnológico e outros procedimentos de ordem artesanal. Na sala Clara, o ambiente é iluminado com predominância do branco, que dá um aspecto virtuoso relembrando o click ou flash na fotografia, e apresenta fotografias na sala.

Nessa imagem o poeta contrasta tanto os efeitos da “pressa” na execução da fotografia quanto a “pressa” no cotidiano da cidade, além do recurso visual utilizado dando um efeito sonoro de grito.

Na composição vemos uma relação entre a tecnologia e a própria imagem, mais uma alusão a fotografia contemporânea, e a utilização de imagens virtuais. O jogo de palavras se faz presente novamente. A sala Escura, com paredes pretas e iluminação controlada, as palavras são escritas à luz de pólvora, lâmpadas e metais ganham extremo destaque, o que lembra um estúdio de fotografia, onde o rico processo de criação das fotografias é desvendado.

A obra apresenta efeitos sonoros e musicais presentes nas palavras “o sol to do sol”, que causa um efeito de eco, muito presente em músicas e composições musicais, e o jogo de palavras proporciona outras dimensões da escrita.

Nessa composição é possível observar o movimento das luzes e a cor branca e preta sempre presentes. É também uma alusão a fotografia e a “Luz Inside”, ou seja, luz dentro da “caixa ou câmera” e a luz que incide na hora de tirar a foto. O poeta se utiliza de recursos da língua inglesa aliado ao português criando um jogo de palavras tecnológicas.
Enfim, mais uma exposição explorada, com belíssimas obras fotográficas e composições poéticas vislumbradas por um grande artista brasileiro. Fica a dica! Como os jovens dizem. A exposição Luzescrita é obrigatória para quem gosta de poesia e fotografia e seus estilos unificados, e ela irá até 30/07, aproveita que a entrada é gratuita!
Termino a minha caminhada fotográfica e poética por aqui, no entanto, voltaremos a nos encontrar para dialogarmos sobre novas aventuras poéticas e literárias da arte em movimento em nossa cidade da garoa.
Au revoir!
Serviço “Luzescrita”:
Local: Espaço Cultural Porto Seguro
Endereço: Alameda Barão de Piracicaba, 610 – Campos Elíseos – CEP: 01216-012 – São Paulo/SP
Telefone: 11 3226-7361
Período: De 19/05 a 30/07
Funcionamento: De terça a sábado, das 10h às 19h , e no domingo das 10h às 17h.
Classificação: Livre
Site: http://www.espacoculturalportoseguro.com.br/exposicoes/em-cartaz/luzescrita.html
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Redação SP da garoa

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